CONTO de FODAS - Rapunzel

Rapunzel era filha de Leanora e Simão, um casal muito conservador que morava em uma bela casa não muito afastada do centro da cidade. Simão era rico, dono de muitas propriedades. Leanora não trabalhava e só saia de casa para ir à igreja ou visitar algumas amigas. Na verdade ela ia fofocar com as amigas. Adorava falar mal das filhas das outras vizinhas e sempre dizia que Rapunzel não era como essas outras, que só saia de casa para a escola e de lá direto pra casa. Realmente era o que acontecia com pobre jovem. Não saia de dentro do quarto para nada. A última vez que lembrava ter passado mais tempo fora daquele quarto, una vez que estava em casa, foi quando plantou una rosa em um dos canteiros. Agora toda vez que ela olhava pela janela, podia avistar a roseira já tão crescida e enrolada na treliça que alcançava a janela do quarto andar, onde ficava seu quarto. Para falar a verdade aquela roseira era a única coisa que acalmava a garota. Quando não tinha mais trabalhos da escola para fazer, Rapunzel ligava o rádio e ficava o resto do tempo trançando o cabelo tentando imitar a roseira que ela plantou.
Seu quarto era bem iluminado, parecia que o sol queria beijar a pele branca, esquentar as curvas perfeitas, fazer com que ela acordasse para revelar imensos olhos verdes. O vento que adentrava pelas grandes janelas parecia querer lhe tirar a franja loira que gentilmente deitava sobre o delicado rosto de Rapunzel. Resumindo, ela era muito bonita, infeliz, porém bonita.
Como a garota mais bonita da cidade poderia ser infeliz?! Muito simples. Ela parecia um pássaro preso numa gaiola. Não podia sair para nada. Não tinha um momento sem que seus pais a vigiassem. Ela se sentia sufocada. Perdendo sua juventude, trancada naquele quarto.
Como de costume Rapunzel, após os trabalhos da escola, ligou o rádio e se pôs a cantar. Não tinha a voz das mais perfeitas, mas o sabia cantar muito bem. Enquanto Rapunzel cantava, um jovem de mesma idade ou quase isso passava por perto de sua casa e reconheceu a música. O rapaz ficou tentado a saber quem gostava da música que para ele era a melhor feita em todos os tempos. Resolveu então ele chamar e assim descobrir logo. Ele mais que depressa se posicionou ao pé da roseira, com uma das mãos apoiadas na treliça e de pescoço esticado começou a chamar por alguém que até então ele não tinha a menor ideia de quem poderia ser. Seus chamados foram atendidos quase de imediato. Ao brotar da janela, ele avistou a mulher mais bela que seus olhos jamais viram e que sua mente nunca pode imaginar. Claro que era Rapunzel. Ela perguntou o que ele queria e ele atordoado com a beleza da jovem não disse muita coisas além de eu gosto dessa música. Rapunzel não entendeu muito bem, mas gostou de Erick.
Erick tinha os cabelos castanhos e corpo atlético do tipo desses jogadores de futebol americano, talvez ela pensasse assim porque Erick sempre aparecia usando una jaqueta do time da escola. Todos os dias ele ia visitar Rapunzel. As visitas se tornaram tão frequentes que ele sabia a hora certa que a jovem ficava sozinha em casa. Não demorou muito e ele passou a subir pela treliça até o quarto de Rapunzel. Pronto. Os dois tinham se entregado ao desejo. Se amavam todos os dias logo depois que a mãe da menina saia. Ficavam nus agarrados até quase a hora que os pais dela voltassem pra casa por volta das oito da noite.
Certa feita enquanto se amavam o pai de Rapunzel chegou em casa mais cedo que de costume. Os jovens amantes reconheceram o som do Camaro do pai de Rapunzel. Desespero total no quarto da jovem. Erick viu aquela alcova se tornando o seu próprio calabouço ou mesmo o seu túmulo. Ele disparou na direção da janela ao mesmo tempo em que punha as roupas. Seu nervosismo era tanto que antes mesmo de chegar a ela, já estava vestido. Não se despediu de sua amada e começou a descer pela roseira. Ao fazer isso sua jaqueta se prendeu a um dos muito espinhos e na tentativa desenfreada de se soltar com um movimento brusco, ele entrou em trajetória quase de queda livre se não fossem os galhos e espinhos que pareciam tão apaixonados por ele quanto Rapunzel e o seguravam de vez e vez. Finalmente encontrou o solo duro. Roupas rasgadas, sangue, espinhos na carne e una dor excruciante. Erick desapareceu no meio da noite dolorido e em frangalhos. Simão entrou no quarto e olhou pela janela, mas não pode ver quem estivera ali. A única coisa que viu foram alguns galhos quebrados da planta. Simão não quis saber o que acontecera em sua ausência o benefício da dúvida era mais reconfortante que a dor da verdade.
No dia seguinte quando Rapunzel acordou percebeu que não podia mais ver rosas em sua janela. Correu e descobriu que seu pai havia cortado a roseira e feito da treliça que a segurava una espécie de arma medieval que deceparia qualquer um que a tentasse escalar.
Rapunzel não via mais Erick. Ela preferia acreditar que ele aguardava a roseira crescer novamente para resgatá-la de lá, mas na verdade ele estava morrendo de medo de ser pego em outra fuga ou de perder algum membro importante de seu corpo.
Pelo sim ou pelo não a roseira continuou a crescer e Rapunzel a trançar o cabelo.


Por Phillip M Elliot