CONTO de FODAS - Cinderela

Cindy morava com sua madrasta Margot. De todos os casamentos de seu pai, essa era de longe a pior mulher que ele conseguiu. O pai da garota falecera alguns meses após se mudarem para a casa de Margot. Margot ainda tinha duas filhas, Bernadete e Lilandra. Das garotas, Cinderela era sem dúvida nenhuma a mais bonita. Era um pouco difícil de perceber isso, já que Cindy estava sempre camuflada debaixo de roupas que em nada valorizavam o seu belíssimo corpo. Quando estava em casa quase sempre usava um jeans frouxo e sem costura, cortado acima do joelho, que escondia suas coxas lisas. Um top, não muito curto sustentava os seios arredondados que sumiam sob uma camiseta larga estampada com a foto de algum político. O motivo dessas roupas é que Cinderela era tratada como se fosse a empregada da família. Bernadete e Lilandra estavam sempre bem arrumadas - o que de nada servia, pois continuavam sendo feias. O dia de Cindy era completo - completo de faxina e arrumação. Ela sozinha tinha de arrumar a casa, lavar, passar e cozinhar. Fazia isso depois de encarar um emprego de meio expediente em una loja que alugava trajes de gala.
Certa feita, para a surpresa de Cinderela, sua madrasta acompanhada das filhas foi até a loja em que trabalhava para que elas pudessem alugar vestidos para a festa que aconteceria naquela mesma noite. O que surpreendeu Cindy não foi o fato delas terem ido à loja, já que aquela era a única na cidade, mas sim por não terem contado sobre a festa. Cinderela as atendeu como fazia com qualquer outro cliente que chegasse. Elas alugaram os melhores e mais caros vestidos que havia lá e foram embora. Antes de sair a madrasta de Cinderela disse-lhe que não demorasse a voltar para casa, pois esta se encontrava em péssimo estado. Cinderela ainda teve tempo de perguntar se poderia ir à festa também. Margot limitou-se a olhar o uniforme que a garota vestia e disse em um tom debochado - o que fazia sempre que falava com Cinderela - que ela certamente teria roupas adequadas para a ocasião.
Assim que terminou seu turno, Cindy fechou a loja e correu para casa. Na porta de entrada encontrou um bilhete que dizia: "fomos para o salão terminar de nos arrumar e de lá iremos para o Baile. Deixe tudo limpo". Quando ela entrou em casa, precisou esfregar os olhos para acreditar no que via. Sem dúvida nenhuma aquela não era a mesma casa que ela havia deixa antes de ir para o trabalho. PUTA DA VIDA. Essa era a palavra para defini-la naquele momento. Cindy juntou todas as roupas e coisas que estavam espalhadas pela casa e fez una grande pilha no centro da sala. Ela pegou sua bolsa e saiu. Poucos minutos depois estava de volta na loja. Cinderela sabia que não tinha dinheiro para alugar nenhum daqueles vestidos. O mais barato custava mais do que ela ganhava em um mês inteiro de trabalho. Não por isso. Cindy poderia muito bem pegar qualquer vestido e devolver sem que ninguém notasse. Pegou um vestido longo, azul, que ela não mostrara quando sua madrasta foi com as filhas até a loja. Da mesma forma que entrou, ela saiu, sem que a vissem. De volta em casa, não precisou de muita maquiagem para ficar mais bonita. Antes de sair de casa para a festa, apanhou una garrafa de álcool no armário da cozinha e una caixa de fósforos que estava sobre mesa, foi até a sala e derramou toda a garrafa de álcool na pilha de coisas que se amontoavam e encobriam a mesinha de centro. Pensou em una única frase enquanto acendia o fósforo "Filhas da puta, vão se fuder". Sem pensar em mais nada, atirou o fósforo na pilha que se transformou em una bola de fogo e lançando chamas que tocavam o teto e espalhavam fagulhas por todos os lados.
Ela ficou acompanhando o fogo consumir metade da casa antes de ligar para os bombeiros. Entrou em seu fusca laranja que mais parecia una abóbora e pegou a estrada para o baile.
Preferiu estacionar nos fundo. Cinderela pode ver Margot desesperada falando ao celular. Haviam ligado e informado que sua casa estava em chamas. Cindy aguardou elas saírem e só então entrou no baile.
Cinderela estava parada na varanda quando um homem alto, que trazia um paletó jogado no ombro e una gravata roxa com o nó desfeito, se aproximou dela para puxar conversa. Cinderela o fitou. Os olhos dela se detiveram no relógio de pulso dele e ela lembrou que era tarde e que teria de ir embora para devolver o vestido e para não parecer culpada no incêndio. Antes que Jorge abrisse a boca para dizer a primeira palavra, a jovem saiu correndo sem dar espaço para apresentações. O homem chamou por ela sem obter resposta. Enquanto ela corria para o carro, Jorge pode ver que ela deixou cair um pequeno cartão. Ele abaixou para pegá-lo e percebeu que se tratava de uma etiqueta - na pressa ela se esqueceu de retirar a etiqueta da loja. Ele viu o desenho de um pequeno sapato de vidro e as letras impressas com o nome da loja - Fádila Madrini.
Cinderela estava no trabalho pensando na noite anterior e o quanto ela tinha sido acusada por sua madrasta, porém os bombeiros chegaram à conclusão de que o fogo tinha começado por causa de um curto na tv da sala. Era o melhor que eles podiam dizer já que não havia sobrado muita coisa da casa. Cindy lembrava também de Jorge, sem nem mesmo saber o seu nome. Em meio aos pensamentos a porta da loja se abriu e o coração de Cindy parou por um segundo. De pé na entrada, estava Jorge com um pequeno cartão entre os dedos. Ela pensou em se esconder, porém era a única na loja. Finalmente eles puderam se apresentar e ela ficou sabendo que Jorge era o anfitrião da festa em que estivera e fugira em disparada. Jorge convidou Cindy para sair e ela aceitou.
Margot e as filhas tiveram que trabalhar na loja em que Cindy trabalhava, pois a pensão que Margot recebia do pai de Cindy já não era suficiente para elas e agora tinham que pagar o aluguel de una casa.
Pouco tempo depois Cindy foi morar com Jorge e se casaram. Margot e as filhas foram ao casamento. Elas não puderem ver muita coisa porque estavam ocupadas demais equilibrando bandejas e servindo os convidados.

Se carecer de final, eles viveram felizes para sempre.

Por Phillip M Elliot